Essa pergunta é bastante comum e corriqueira em nossa rotina de casa de câmbio.
Eu, Lucas, trabalho há quase 10 anos com câmbio e já ouvi incontáveis vezes esse questionamento.
De antemão, resolvi escrever este post, e mostrar alguns números que pode ser interessante para você, que se faz este questionamento.
COMPORTAMENTO DO CÂMBIO DIANTE DA BAIXA DA SELIC
Com a SELIC a 14/12% como tínhamos há uns anos, a disparidade entre o câmbio e a bolsa era bastante gritante. Quando o dólar caia, a bolsa subia quase na mesma proporção. E o inverso era verdadeiro.
Nesse sentido, com o cenário de queda dos juros, vemos isso mais em quedas/altas bruscas de alguma das pontas. Com altas e quedas dentro do comum, entre 1 e 2%, nem sempre a alta de um indica a queda do outro, por exemplo.
E isso deve-se ao cenário de juros mais baixos, o que reduziu bastante a arbitragem entre os players do mercado.
Tanto isso é verdade que, na pandemia, vimos o dólar disparar e a bolsa despencar. Apesar disso, passado o “susto” inicial, vimos nossa bolsa recuperar (quase 100%), e dólar simplesmente não arrefeceu, continuou batendo nas máximas históricas.
O QUE, DE FATO, MOVIMENTA O DÓLAR?
Constantemente nos questionam se, com a abertura das fronteiras, o dólar vai subir.
Eu montei um quadro demonstrativo, para mostrar que o impacto do turismo, ainda, é muito pequeno no dólar.
Atualmente, o fluxo financeiro de importação e exportação gira em torno de 400 Bilhões de USD/ano (base 2019, pré-pandemia). Vide imagem acima.
Veja que esse volume é somente de importação e exportação, para relações comerciais.
No mesmo ano de 2019, tivemos algo em torno de 12 milhões de brasileiros viajando para o exterior. Eu fiz uma somatória em torno de 1600 dólares por pessoa de Ticket médio. Isso dá, em média, 19 Bi de dólares, um volume de 12% sobre o volume de importação, que é saída de capital.
Nem estamos levando em consideração o fluxo de capital de investimentos no exterior, bem como a repatriação deste capital.
O Banco Central reportou, em 2019, uma saída de 44,5 bi de dólares de investimentos, para termos comparativos, 125% do câmbio turismo.
Então, o impacto do turismo existe, claro, mas nada de surreal para ser responsável direto pela variação cambial.
E, além disso tudo, nós temos impacto direto na moeda por questões políticas, econômicas.
Por exemplo, quando o STF “cancelou” os processos do Lula – sem entrar no mérito disso – mas trouxe insegurança jurídica das instituições, bem como política. E isso fez o dólar disparar.
Após isso, tivemos o aumento da taxa de juros. Isso faz com que os investidores meçam o potencial risco x retorno do país, e se interessem por trazer recursos para o Brasil. E isso fez o dólar cair.
COMPORTAMENTO DO DÓLAR TURISMO NA PANDEMIA
No ano de 2020 aconteceu algo muito raro, que foi o câmbio operar invertido: o que é isso?
Nós estávamos vendendo dólar e euro, as moedas que correspondem a 95% do fluxo, abaixo da cotação do comercial. Bem abaixo.
Entre os meses de março a maio de 2020, que foi o maior volume registrado aqui na praça de Porto Alegre, não havia reais disponíveis nas casas de câmbio.
Em suma, havia eu e mais dois concorrentes abertos, e ficávamos trocando figurinha, um emprestando real para o outro, para conseguir atender aos clientes, e os bancos fechados, com atendimento muito restrito, ninguém conseguia sacar.
E muita oferta de moeda. Para ter ideia, o dólar comercial, que é nosso balizador, estava em R$ 5,30, e nós estávamos pagando R$ 4,20/4,30, e vendendo a R$ 4,90. Um spread nunca antes existente, e dificilmente haverá novamente.
Mas claro, isso envolvia o risco do teu capital, de comprar o dólar e não ter saída, visto que as fronteiras todas estavam sendo fechadas, viagens canceladas, etc.
Então havia muitos clientes vendendo, com medo de as casas de câmbio fecharem também, e eles ficassem sem reais disponíveis para as despesas, etc.
Em contrapartida, as importações e exportações, e a movimentação de capital continuou a todo vapor. A bolsa brasileira em queda livre, muita gente aproveitou o dólar extremamente alto, nas máximas históricas, para trazer capital do exterior para investir no Brasil.
Aproveitaram um momento. E você, também aproveitou?